“Vertigens do vazio” é um chamamento à grande aventura da criação. É convite para o mergulho sem reservas, na busca do novo, do inusitado, de nossa essência. Aposta no risco da vertigem diante da verdade de nós mesmos. Aposta no desfazer-se de nossos lixos em busca do vazio, sem garantias nem certezas preconcebidas para a criação. Aposta no encontro, na aceitação dos inusitados, dos sustos enfrentados no processo criador e no desvelamento do mais íntimo e verdadeiro do nosso eu.

Fica aqui o convite e uma advertência ao leitor: não tema atirar-se à leitura deste livro! Não tema ceder ao encontro de seu próprio vazio revelado por estas páginas... Entregue-se ao descontrole, sem reservas. Não tema ceder, desfalecer, ser tomado pelas vertigens do vazio. Pois é nesse chão da arte, que tanto o educador e o artista exercitam suas vertigens de criação, que esse livro desvela.

Madalena Freire

JORNAL "A TARDE" - Salvador.

Por SERGIO RIVERO


O VAZIO QUE A ARTE OCUPA... E DESOCUPA

O novo livro de Helio Rodrigues, Vertigens do Vazio (Editora Livre Expressão, RJ, 2011), é um mix de possibilidades que atinge em cheio os leitores de mundo. Parte da biografia de um artista plástico e arte educador, que por muitas antenas, da subjetividade à interação com seu contexto, mais precisamente, na relação com alunos, mestres e colegas, traz todo o inesgotável potencial da arte como instrumento de conhecimento. Mas, por outro lado, a arte “não se objetiva primordialmente, mas se sujeita às diferentes leituras que um indivíduo é capaz de fazer dela. Seja este indivíduo aquele que a produz ou a contempla.” Assim, percebe-se que em uma sempre larga avenida de mão dupla, conhecendo o mundo pela arte e a arte pelo mundo, o leitor deste livro é convidado a percorrer os trajetos construídos pelo artista Helio Rodrigues. Ele nos ensina como a relação aluno x professor é palco de sutilezas. Uma interlocução que pode atingir o conhecimento da condição humana, a começar do processo criativo, minimamente, a partir dos materiais que irão materializar a obra: ferramentas, suportes e cores nos dizem tudo, se temos olhos para perceber a íntima conexão que se dá entre humanidades e interfaces possíveis.

Deixando de lado o professor, Helio desnuda-se em suas experiências pessoais para demonstrar como a fragilidade é importante. O vazio é o tema. Vem e vai inúmeras vezes, mas sempre renovado. Ele nos diz: “...ninguém cria sob o julgo do equilíbrio. O excesso dele pressupões certezas, não aceita o vazio ou não o enxerga....” Esta frase vai atrair outra, desta vez do também artista plástico, Mondrian, ao dizer que “a arte desaparecerá no momento em que a vida adquirir mais equilíbrio.” De um momento crítico em sua vida, em que possibilidades estáveis não o agradavam mais, Helio incita o leitor, a junto com ele, avaliar o que a contemporaneidade faz com o conceito esgarçado de arte em puro confronto com o papel do artista no mundo.

De uma intertextualidade elétrica, por entre capítulos com títulos abstratos, Helio instiga um leitor que pode ser qualquer pessoa. Assim, o autor cria uma estratégia de escrita que focaliza processos muito específicos, seja em técnicas, seja em escolhas no leque das opções mas, com segurança e muita tranquilidade, perpassa os grandes – projeto e processo criativo – que se dão dentro das criaturas humanas, em sua busca de expressão. O que pode parecer educativo mergulha, sim, profundamente, na cultura.

Tal feedback singular veio-me depois da palestra que Helio Rodrigues proferiu, aqui em Salvador. Uma coreógrafa me disse que estava surpresa como havia encontrado ali, pela fala de um artista plástico, respostas para seu processo criativo.

Pois é sob o tom da liberdade, sem fronteira certa, que Helio nos diz que a arte cumpre o seu papel ao lidar com o mundo ficcional em um franco trabalho de interpretar as tantas efemeridades que cercam a vida. Há uma esperança para o mundo. Helio Rodrigues acredita nisto e nos convence.

A criatividade se abastece das incertezas, das dúvidas, do medo, dos restos desprezados, do que nos inquieta, da diversidade, do impalpável, da falta. Essas fontes de abastecimento criativo, não são em si, objetos de desejo de ninguém, muito menos preenchem ou promovem atitudes de apego a elas. A partir dessas fontes se multiplicam e se renovam olhares e, é com essa capacidade transformadora que ao ser lançado no vazio, um indivíduo produz arte.
Helio Rodrigues

Enquanto escrevia,

algumas vezes me senti de mãos dadas com a psicologia e a filosofia, no entanto, tentei não adotá-las como fontes estruturadoras, procurando priorizar e valorizar os processos criativos como fontes ampliadoras do sentir e do olhar, para que assim estimulados possam colaborar com o leitor em seus processos que envolvam principalmente revisão e reflexão.